TEATRO: Uma Flor Silverana
Silvero Pereira (foto ao lado) tem 26 anos de vida, 12 de teatro e há seis percorre o Ceará com o monólogo ‘Uma Flor de Dama’. O ator está entre os de mais sucesso no panorama artístico do Estado.
Inspirado no conto “Dama da Noite” de Caio Fernando de Abreu, o monologo que aborda a temática travesti que raramente é falada nos palcos cearenses.
“Ao ler o conto, percebi na forma que Caio escreve, apesar de ser um conto, a sua forma de escrever parece feita para teatro, parece uma dramaturgia”, afirma Silvero.
A primeira apresentação de “Uma Flor de Dama” foi em março de 2002 e oito anos depois Gisele Almodóvar, personagem de Silvero na peça, já contabiliza um total de 288 apresentações no monólogo.
Para a construção de sua personagem, Silvero, além de se apropriar das histórias de travestis conhecidas, também foi um quando em experimentação se travestiu e foi para as ruas conhecer de perto esse mundo da noite e do erotismo. Conhecendo o que elas têm a dizer de passado e presente de sofrimento e vida quando não estão fazendo esses papéis.
“Eu me vi com a necessidade de me travesti, sair com elas travestido para sentir na pele como era, pra ver como é que as pessoas reagem. Agora era diferente o ângulo, não era eu observando com elas reagem com os travestis, mas como elas reagem comigo sendo travesti e isso foi primordial para a construção do personagem”.
O monologo é apresentado como se a personagem estivesse num bar dialogando com um garoto o qual escuta seus desabafos e que parece realmente existir e estar lá, só que invisível contracenando com Silvero, debatendo temáticas diversas como religião, morte, pedofília, abuso, preconceito, família, AIDS, sorte, amor...
A peça, desde seu inicio, não só se apresentou só em teatros, mas também em bares e até mesmo na rua. Atualmente o formato intitulado por “Cabaré da Dama” se caracteriza por durante duas horas seguidas ocorrerem apresentações de performances travesti, brincadeiras e concursos onde ao final o monologo é apresentado.
Essa relação travesti, noite, erotismo, preconceito e sociedade é metaforizada nas falas de espetáculo onde o travesti compara o que é ditado como normal pela sociedade como sendo uma roda gigante que gira excluindo o que é considerado feio e anormal por essa sociedade.
“Como se eu não tivesse por fora desse movimento da vida, que vai rodando, girando, feito roda gigante com todo mundo dentro menos eu. Eu sempre fico de fora, como se tivesse desaprendido a linguagem dos outros. A linguagem que eles usam assim quando giram nessa roda gigante. Você tem que ter uma senha, um passe, um código, aí o cara deixa você entrar, sentar e rodar na roda como todo mundo, menos eu, eu sempre fico de fora, parada, babaca, pateta, ridícula, com a cara cheia, louca de vontade de tá lá rodando com todo mundo naquela roda idiota ... A roda faz isso com que tá fora dela”.
Com uma linguagem popular, a montagem levanta questionamentos e reflexões para a sociedade contemporânea injusta e mostra argumentações convincentes, no próprio texto da peça, que mudam a forma de pensar de quem assiste ao monólogo que é interativo, engraçado, trágico com um final admirável e história comovente onde Silvero, em seu personagem, expõe os medos, aflições, pensamentos, desejos, anseios de um travesti que tem em comum com travestis da vida real, o sofrimento e a exclusão social
E sempre ao final , O Ator-diretor explica que o espetáculo não é uma defesa da temática travesti, mas sim uma defesa da aceitação por parte da sociedade diante das escolhas alheias, seja religiosa, sexual, time de futebol ou “diabo a quatro”, como diria Almodóvar.
Mas mesmo com a dificuldade de atrair público ao Teatro que não é algo disseminado na sociedade como cultural, assim como é hoje em dia a Televisão, esse tempo todo em cartaz não ensinou a Silvero somente a conhecer e aprender com a arte teatral, mas também sobreviver dela.
É o que reafirma Izabel Gurgel, atual diretora do Theatro José de Alencar quando diz que “Silvero participa dessa nova geração da produção da cena cearense de um modo muito vigoroso, de um modo muito especial, ele é um trabalhador da cultura na melhor acepção da expressão. Por quê? Por que ele tem muito claro na vida dele, no desempenho dele como artista de que ele é um trabalhador e que ele precisa viver do trabalho que ele realiza”.
Por Rogério Maia Marcadores: Cabaré da Dama, Clipping
No escurinho do teatro
Três espetáculos para retratar a realidade humana em condições marginalizadas, fazer pensar. A arte cênica dá espaço para temas e pessoas por vezes discriminadas na Mostra de Teatro Despudorado, aberta amanhã (1º), no Centro Cultural Banco do Nordeste
Isabel Costa - especial para O POVO 31/08/2010 02:00
Travestis, nudez, prostituição, traição. Estes personagens e temas serão escancarados para esculpir a diversidade humana em diferentes facetas. Assim começa, a partir de amanhã (1º), a Mostra de Teatro Despudorado do Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB). A realidade e a ficção encontram-se no palco para mostrar angústias, luta pela sobrevivência e marginalização.
Para abrir a sequência de peças o Grupo Parque de Teatro vai apresentar Engenharia Erótica. Uma pesquisa de oito anos resultou na montagem que explora o universo dos transformistas no Estado do Ceará. “O espetáculo é um teatro documentário onde a gente expõe a vida de 200 tipos de travestis e transformistas”, disse o diretor e ator Silvério Pereira. Além do tempo realizando estudos, Silvero Pereira utilizou o livro Engenharia Erótica – Travestis no Rio de Janeiro, de 2006, como inspiração para constituir a montagem.
Quatro personagens fazem girar o enredo do espetáculo. Todos estão presentes em outros trabalhos da companhia Parque de Teatro. São resgatados, mas não para repetirem-se, e, sim, para serem inseridas em situações diferentes. Por vezes, é feita uma comparação entre a figura do travesti e o clown (palhaço). “Ele não é um personagem, ele é arquétipo. Ele não é criado pelo ator, ele existe dentro do ator. A gente parte da mesma filosofia do clown para o ator e o travesti”, diz.
Dando continuidade, o público poderá ver Abajur Lilás. A ideia surgiu em 1999 quando o diretor Edson Cândido estava em São Paulo. As relações de poder são exploradas através da figura central de Gino. Em um prostíbulo, ele explora três mulheres e finca uma figura de ditador. Leninha, Célia e Dilma vivem em um circulo de dominador e dominante, fuga e consolo. Quando uma delas quebra um abajur a estrutura tão consolidada sofre as primeiras rachaduras e são desencadeados conflitos que, aos poucos, desembocam numa tragédia.
“Abajur Lilás, como qualquer outro trabalho, fala do ser humano marginalizado, porém humano”, destaca o diretor Edson Cândido. O coletivo fez uma pesquisa de um ano em prostíbulos de Fortaleza e na Praça José de Alencar. Entretanto, nem tudo o que foi visto neste período faz parte da peça. “No espetáculo, a gente não coloca todas as imagens que nós vimos, por que eram coisas muito fortes. A gente deu uma amenizada, mas mesmo com essa amenizada ainda choca. A vida da prostituta é muito difícil, mas são seres humanos”, pontua o diretor.
Para a Mostra de Teatro Despudorado, a trupe agregou novos atores dentro da proposta já consolidada. O realismo de uma ferida aberta surge para fazer os expectadores refletirem sobre a condição humana encontrada mesmo nos espaços e profissões mais discriminados. Abajur Lilás também entra em diálogo com a rua. Catadores de material reciclável e vendedores ambulantes entram o jogo para incrementar.
Fechando a programação o público verá Nudez sem castigo, do Grupo Centauro. Inspirado no texto de Nelson Rodrigues Toda Nudez será Castigada, o grupo desenvolveu uma textualidade composta de fragmentos em que a relação do casal principal se destaca, transformando-se numa investigação cênica sobre as relações humanas.
SERVIÇO
MOSTRA DE TEATRO DESPUDORADO – a programação especial acontece no Centro Cultural Banco do Nordeste (Rua Floriano Peixoto - 941, Centro), a partir de amanhã (1º). Classificação indicativa de 18 anos para os três espetáculos. Será exigido documento de identificação (RG, CNH ou carteira profissional) no momento da entrega do ingresso. Informações: 3464.3108. Entrada gratuita. Marcadores: Clipping
Fábrica.
Engenharia. O espetáculo é como o corpo de uma travesti: é possível injetar e tirar coisas. Com ou sem, ela permanece travesti. É possível trocar-lhe a roupa, fazer um desfile de moda em plena rua. Na vida. Na peça também.
Vi o Engenharia Erótica, novo trabalho como diretor e ator de Silvero Pereira ainda mês passado, em abril, lá no Theatro José de Alencar. Assisti a peça novamente em sua estreia no Sesc-Senac, assim como na semana seguinte, pouco depois de fazer a entrevista abaixo junto com a amiga e jornalista Débora Medeiros. Vi três coisas diferentes. Assim como tinha visto dois ou três espetáculos diferentes cada vez assisti o Cabaré da Dama, ainda no ano passado.
E não é só ‘’ser diferente’’. Dessa vontade a cena contemporânea está cheia. Em vários sentidos. Seria mais verdadeiro dizer que fui surpreendido. Todas as vezes, especialmente no Engenharia. E, talvez, por puro preconceito.
Sim, porque assisti o Cabaré anteriormente, e Denis Lacerda, Jomar Carramanhos e Diego Salvador, os atores que se juntam a Silvero já estavam lá. Dublando músicas. Não. Interpretando. Meu deus, não eram travestis. Aliás, eram, mas tão mais que isso, pessoas inteiras. E quem disse que uma travesti é uma pessoa pela metade? Arnaldo Jabor disse, e olha que quase sempre ele fala besteira, mas daquela vez eu parei pra pensar e gostei: o travesti é meio como um centauro, um mito moderno, urbano. Parado na esquina, parece ter quase dois metros de altura – ilusões causadas por um salto quinze bem colocado em pernas quase todas de fora. Finíssimas e fortes, alongando ainda mais a silhueta.
Ele não é uma coisa, nem outra: é duas. Não é uma pessoa pela metade, um andrógino partido ao meio. Tem natureza dupla e as concilia, ou adiministra seu caos. Toma pra si o domínio do próprio destino ao intervir e se apoderar do seu corpo. Não é questão de modificar a própria aparência. Isso todo mundo faz, diariamente, mais ou menos consciente disso. O corpo masculino é uma invenção. O corpo feminino também. Mas só o do travesti talvez seja encantado. Porque é ele que cria, e não a sociedade. E quando falo de corpo, não falo de sexo. Mas também. Não seria por acaso que alguns dos atores tenham se surpreendido com as semelhanças entre seu mundo e o delas. Pouca gente compõe personagem pra estar na rua, sem firulas de performance ou de respaldos conceituais da arte contemporânea. É ter o personagem talhado na carne. E esse espetáculo é feito disso. De carne. Dilacerada, esticada, inflada, repuxada, retorcida. Mas quase sem peso. Aliás, com o peso de um salto quinze, os pés quase sem tocar o chão.
Engenharia Erótica: Fábrica de Travestis está em cartaz todas as quintas-feiras de maio, às 20h, no SESC Iracema (Rua Boris, 90. Próximo ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura). Mais fotos do espetáculo, por Lara Vasconcelos Ingressos a R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).
Entrevista completa vejam no blog: http://www.iguatuonline.blogspot.com/
LUZ NA PASSARELA
Depois de duas apresentações para testar o formato do novo espetáculo, Silvero Pereira estreia hoje o polêmico Engenharia Erótica - Fábrica de travestis
Magela Lima
magela@opovo.com.br
06 Mai 2010 - 02h13min
Sozinho em cena, de posse de um mote do gaúcho Caio Fernando Abreu, o ator superou os limites da narrativa original e avivou sua encenação com traços e vivências que o contato cotidiano com os tipos reais que se interessava em representar lhe rendeu. Assim, para compor uma travesti, Silvero Pereira se aproximou delas. Fez ponto nas ruas, quando preciso, e nas boates, quando lhe era permitido, fortalecendo uma conexão simbólica para a montagem de 2004, ainda um esquete, que se dilata agora em Engenharia Erótica & Fábrica de travestis. Para o ator, a marginalização do ambiente familiar que limita as travestis à prática da prostituição é contraponto direto dos shows de transformismo.
(...) Leia matéria completa: clique aqui.
No dia 06 de Maio de 2010 às 20h no SESC Iracema realizaremos nossa estreia oficial e seguindo Temporada até o final do mês. Neste Teatro os ingressos estão pelo preço de R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia). Entretanto, por semana estaremos sorteando convites e ingressos promocionais aqui no nosso site. As primeiras 05 pessoas que enviarem e-mail para producao@fabricadetravestis.com.br ganham ingresso na faixa com acompanhante. Já as posterires 10 pessoas que também enviarem e-mails à produção ganham os ingressos promocionais de 50% do valor da bilheteria, ou seja, se você paga inteira na hora vai pagar apenas R$ 10,00; se paga meia, ao invés de R$10,00 vai pagar R$ 5,00. APROVEITEM!!!!
Novas damas
14 Abr 2010 - 01h58min
Completando sua trilogia sobre a vida de travestis e transformistas, Silvero Pereira dirige e atua em Engenharia Erótica - Fábrica de travestis
Em 2004, o ator e diretor teatral Silvero Pereira tomava uma decisão que guiaria parte de sua produção artística nos próximos seis anos. Foi ali que o também dramaturgo decidiu adaptar para o teatro a obra A dama da noite, do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu, renomeando para os palcos como Uma flor de dama. A partir daí, o artista mergulhou no mundo das ``damas da noite``, frequentando festas, absorvendo trejeitos, ouvindo histórias e fazendo parte desse universo & marginalizado e afligido por estereótipos e preconceitos da sociedade. A terceira parte dos frutos da pesquisa sobre travestis, transgêneros e transexuais, desenvolvida por Silvero nos últimos anos, pré-estreia hoje no palco do Theatro José de Alencar (TJA), com o espetáculo Engenharia Erótica & Fábrica de travestis.
As apresentações de hoje e sexta fazem parte ainda do processo de montagem, daí serem encenadas para uma plateia de 60 convidados, que puderam se inscrever para a audiência do espetáculo desde o dia 10 de abril, através do site da peça (www.fabricadetravestis.com.br). O espetáculo, inspirado na obra homônima do psicanalista Hugo Denizart, entra em cartaz no Teatro Sesc Iracema no próximo mês.
(...)
Leia a matéria completa em: http://opovo.uol.com.br/opovo/vidaearte/972498.html
A Tembiu colocou uma matéria sobre o Engenharia Erótica...
confira em:
http://www.tembiu.pro.br/oktiva.net/1209/nota/159135
Segue abaixo os convidados (em ordem alfabética) para o dia 16, sexta. Se quiser conferir a lista para o dia 14, clique aqui.
Por favor, confirmem sua presença por e-mail ou telefone.
Mais informações:
8691.3542
producao@fabricadetravestis.com.br
Relação de convidados Engenharia Erótica
16/04 (Sexta-feira)
1. Alexandre Havt Bindá
2. Aline Sampaio Pontes
3. Ana Harolda Tavares Soares
4. Ana Patricia da silva
5. Ana Patricia da Silva
6. Ana Paula Matos Teixeira
7. Anderson Monção do Nascimento
8. Antonio Carlos Alencar da Silva
9. Aurizélia Souza
10. Bruno Butterfly
11. Bruno Reis Lima
12. Camila Lobão
13. Candice Machado da C. de S. Carvalho
14. Carla Evelline de Sousa Camurça
15. Cremeilda Dantas
16. Danilo Castro
17. Darwin Marinho de Assis
18. Débora Maria Moura Medeiros
19. Denice Cardoso do Nascimento
20. Dyego Brunno Rocha Siqueira
21. Dyego Stefann Freire de Castro
22. Edgard Augusto Soares Lopes
23. Edson Ribeiro de Oliveira Filho
24. Elaine Cristina Maia Nascimento
25. Ermeson Farias Correia
26. Fco.Dyhego Mesquita Martins
27. Geísa Salgueiro
28. Helenira Dias
29. Henrique Bastos
30. Inaê Soares Oliveira
31. Ismaelton Melo de Lima
32. Jackson Júnior
33. João Ernesto Mota Martins
34. João Paulo de Oliveira Lima
35. João Ribeiro Júnior
36. Jorge Tarik Otoch Uchoa
37. José Diego Linhares Moreno
38. José Valtemir Barreira Junior
39. Jr. Torres
40. Karen Larissa Mesquita Landim
41. Kiraly Levi Mesquita Landim
42. Klaindson Pequeno Araújo
43. Laianne Pires
44. Liana Cristina Dodt
45. Liliany Queiroz
46. Lorena Medeiros Maia
47. Luciana Gomes Santos
48. Marcelo de Lima Martins
49. Marília Lopes Queiroz
50. Marina Lima da Rocha
51. Mario Jorge Barreto
52. Monique Fuck
53. Paulo Victor C. Aires
54. Régis Amora
55. Renan Gomes Pereira
56. Robson Levy
57. Silvane Venturine Rocha
58. Thiago Braga Cavalcante
59. Thyago Ribeiro
60. Tony Greg
Rio de Janeiro, 13 de março de 2010.
Meu amigo,
Mais um dia não-qualquer-amanhã na sua vida. Como diria o tal Caio F.
Contrariando e reforçando os que te rotularam de “Fábrica de Travestis”, elas vêm mais uma vez! Engenhosas, de roupagem nova, com maquiagem apurada, jóias raras, prontas para avançar o sinal vermelho, descer mais um degrau e pisar de salto XV o solo movediço.
O teatro que você me mostrou há um tempo, falando delas, é movediço; essas meninas afundam o pé na nossa lama, remexendo no substrato que nós, os outros, a roda lança a elas. Para mim, depois da “Flor” e do “Cabaré”, observá-las nas ruas, nas imagens, nos bares, nos palcos, é entrever a mim mesmo. Acho que poucos não sentiram um desejo de tomar uma cerveja gelada, ou quente, com Gisele, e por quê? É fato que o indivíduo se faz na relação com o outro, e me pergunto que diálogo, nós, sociedade, temos ofertado a essas garotas? A “Flor” e o “Cabaré” derrubaram tantos conceitos... O meu receio virou admiração, e quantos outros não se renderam ao encanto da tua “Dama”, e mais que isso com a ambivalência delas, tão presente em nós, ditos contemporâneos. Essas poderosas conjugam não só gêneros, liquificando-os, reprocessam também o individual e o coletivo a cada dia.
Escrevo para agradecer por me mostrá-las com tanta sensibilidade, para agradecer a tua persistência, misto de perseverança e insistência... Amanhã, os cavalos alados da cidade-paranóia ganham o palco em forma de rua para entrar na nossa casa, no nosso quarto, no nosso banheiro, escancarando as janelas do nosso mais íntimo. Que a estadia delas em cada espectador-anfitrião seja da desordem!
Merda!
Marcadores: Depoimentos
Segue abaixo os convidados (em ordem alfabética) para o dia 14, quarta. Amanhã a tarde sairá a lista dos convidados para o dia 16 (sexta).
Por favor, confirmem sua presença por e-mail ou telefone
Mais informações:
8691.3542
producao@fabricadetravestis.com.br
Relação de convidados Engenharia Erótica
14/04 (Quarta-feira)
1. Alana Linhares
2. Alexandre de Castro Santos
3. Anderson de Sousa Silva
4. Anna Lorenna Costa Rabelo
5. Antonio Moreira Junior
6. Aretuza Alves
7. Beatriz Cunha Penaforte
8. Bruna Rejane Martins Vinuto
9. Camila Di Cavalcanti
10. Claudia Francisca de Campos Rodrigues Pajaro Moreira
11. Cristine Emanuele Sales Félix
12. Daniel Vitor Lustosa Bandeira
13. Dyego Brunno Rocha Siqueira
14. Edimar de Lima Junior
15. Ednardo Chagas Bezerra Filho
16. Elilia Silva Rocha
17. Emanuel Régis Gomes Gonçalves
18. Eunice Moreira Cavalcante
19. Eveline Monteiro Rodrigues
20. Felipe dos Santos Galvão
21. Francimário silva do nascimento
22. Francisco José Monteiro
23. Francisco Rafael Nepomuceno de Queiroz
24. Gustavo Lopes
25. Gustavo Ramos Pedrosa
26. Helenira Medina Farias Rocha
27. Hélio Creston Filho
28. Indira Nana Martins de Carvalho
29. Italo Félix de Sousa
30. Jeferson Pereira Tinoco
31. Jesuíta Barbosa
32. Julyana Gomes de Sales
33. Lennon Marques dos Santos
34. Loreta Dialla
35. Luiz Carlos Castro
36. Luiz Felipe da Silva Sales
37. Marcilany Gomes de Sales
38. Marcos Eduardo Sales de Sousa
39. Maria Liliane Rodrigues
40. Mariana Lima Morais
41. Mayara Viana da Silva
42. Naécio Gomes de Almeida
43. Paulo Cesar da Silva
44. Pedro Guimarães
45. Rafael Vieira Correia
46. Rafaela de Moura Gomes
47. Raquel Mendes de Almeida
48. Regis Luiz Camara Amora
49. Renata Cavalcante de Oliveira
50. Renata Rocha de Holanda Sousa
51. Ruth Vaz Costa
52. Sara Jucá
53. Simone Évans Barbosa Mesquita
54. Suelene Barroso Paulino
55. Thaís Paz de Oliveira Moreira
56. Thaissa Melanie Araújo Mota
57. Thiago Rodrigues
58. Vanessa Fernandes Raupp
59. Velma Freire Barbosa
60. Wellington Fonseka
Nos dias 14 e 16 de abril (quarta e sexta), às 19horas no Theatro José de Alencar teremos a estréia do espetáculo Engenharia Erótica: Fábrica de Travestis. (apenas para convidados)
Quer convite para a estréia?
Envie seu nome completo e telefone para producao@fabricadetravestis.com.br
As 120 primeiras pessoas que enviarem um e-mail solicitando ingresso terão suas vagas garantidas. Iremos dividi-las entre os dias 14 e 16, de acordo com a ordem dos e-mails recebidos (60 para cada dia).
A produção do espetáculo retornará seu e-mail enviando-lhe um convite virtual de data marcada. Para validação, você deve confirmar a sua presença. (caso você não confirme, ou não possa ir ao espetáculo na data de seu convite, este será encaminhado para lista de reservas)
Obs importante: A equipe de produção estará no hall do Theatro José de Alencar com a lista para liberação das entradas confirmadas, garantidas até 60 minutos antes do início do espetáculo.
Maiores informações:
(85) 8691.3542
producao@fabricadetravestis.com.br
Com o objetivo de divulgar a pesquisa e poder apresentar aos espectadores um pouco do processo criativo do espetáculo, a Produção resolveu criar alguns teasers e dispor a todos.
Os interessados devem seguir os seguintes link´s:
http://www.youtube.com/watch?v=WTjxi5g76SU
http://www.youtube.com/watch?v=ttzquceSjfc
http://www.youtube.com/watch?v=U9lKbR1f9AY
http://www.youtube.com/watch?v=m7aQejUGqCQ
Uma vez eu participei de um debate no Teatro Universitário depois de Uma flor de dama em que você falou da convivência com as travestis para a pesquisa. E fiquei pensando, meu Deus, como deve ter sido... Será que elas se sentem respeitadas, talvez algumas pensem 'sai daqui, atorzinho metido, você não sabe de nada'... E será, será que elas sabem que há o sofrer fora delas, que o mundo é injusto e sujo e belo e lindo também para as pessoas que não pensam na roda... será que elas pensam na roda? Quais delas pensam, será que eu penso, será que não é mediocridade minha me ver diferente delas, filho da puta aquele que as olha como superior, etc etc... menino, você desperta umas coisas...
Resumindo, obrigada. Adorei ver o site, ver o trabalho com um formato elegante, e estou adorando ver a continuação dessa putaria. Boa sorte, muita merda pra todos vocês, e vamos ver onde vai dar!
Juliana. Marcadores: Depoimentos
A minha História com minha Família. Nunca falei sobre a minha sexualidade ou sobre a minha personagem a Deydianne Piaff. e complicado, uma vez minha mãe discutindo comigo ela olho nos meus olhos e disse que eu não poderia ser uma vergonha para a família.
E muito difícil quando você desejar ser quem você é, e ama ser assim, nem todo muito respeita. principalmente quando sua família não quer acreditar, porque no vizinho pode mas na sua casa não. me montar fazer show e receber o carinho das pessoas e mágico. Darei tempo ao tempo sei que existe outras pessoas com problemas piores do que o meu.Deus sabe o que e melhor para mim, ainda existe muitas coisas a falar, as minhas particularidades com minha família não gosto de dizer, e complicado mas espero que com minhas poucas palavras , desejo ser um instrumento de apoio para outras pessoas.
Quando era criança perto da minha casa de uma loja de doces, eu adorava compra chiclete que vinha com anel tinha caixa cheia deles. eu amava aqueles anéis , eu me sentia belíssimo com eles(rsrsrs). uma vez sofri muito porque meu pai jogo no lixo meu disco da Xuxa aquele o número quatro dela sabe amava. meus pais diziam que a Xuxa era o demônio pois eu imitava a própria e as paquitas aff me realizava. tudo isso me fez a ir em psicólogos. Será que sou uma pessoa de outro mundo.
Deus sabe que não sou. Marcadores: Deydianne Piaff, Engenharia Erótica
passei por cada situações engraçadas esperando que minha mãe sai-se de casa pra usar o salto e sair desfilando dentro de casa,entra na casa das minhas primas vestida de mulher pra que os cachorros não me mordessem,se apaixonar pelo melhor amigo da escola e escrever cartas confidenciais pra ele,mesmo sem entender do que se tratava na época na real. Na verdade era o mais puro desejo de se sentir mulher em alguns momentos,que gritava dentro de mim e eu só pude perceber isso com o tempo. Marcadores: Engenharia Erótica, Yasmin Shiran
Programação do Te-Ato a Meia Noite do XVI FNT de Guramiranga
(Foto Lima Filho)
(Trecho do espetáculo ENGENHARIA ERÓTICA - UMA FÁBRICA DE TRVESTIS)
Sabe o que mais machuca a gente de verdade? A família. Eu digo isso porque pelo menos pra mim é assim. Sei que tem um monte de gente que nem liga pra isso, mas tenho certeza que lá no fundo a única coisa que quer mesmo de verdade é ouvir “eu te aceito do jeito que você é...”. Todo mundo quer isso. Eu sou do interior, meu pai trabalhava muito fora de casa e geralmente passava um tempão sem ver a gente. Minha mãe trabalhava o dia todo e eu era a responsável por tudo. Eu era a mais velha. Na verdade eu tinha 14 anos, mas já era a mais velha da casa. Ainda não era mulher, claro. Isso veio depois. Mas era como se fosse a mãe, porque eu tinha dois irmãos mais novos e aí eu que tinha que cuidar. Talvez isso que faça doer mais, sabia? Depois que eu assumi de verdade a minha mãe disse pra todos dentro de casa, lembro como se fosse hoje “ele sempre foi assim, vocês que nunca enxergaram direito quem ele era”. Meu irmão disse na minha cara, olhando nos meus olhos “você não é meu irmão, nem sei quem você é. Você não é dessa família. Pode ir embora”. Meu irmão disse isso. Meu irmão. Eu o peguei no colo. Coloquei comida na boca dele. Se não fosse por mim, quem ia dar comida pra ele? Ele precisou de mim. Agora eu preciso dele e é isso que tenho. Tive que agüentar muita coisa, mesmo depois de já saber o que eu era e o que eu queria. Foi então que meu avô me chamou num canto e disse “Meu filho, não tenho muita coisa, só tenho esses quatrocentos reais, se você acha que dá pegue suas coisas e vá ser feliz. Você é lindo, eu te amo muito. Mas aqui você não é feliz. Vá viver sua vida”. Ele disse isso com os olhos cheios de lágrimas. Foi a última vez que vi ele. Soube a dois dias atrás que ele morreu. Até hoje estou tentando juntar uma graninha pra voltar pra casa e rever a família. Que família, não é? Também não sei.
(foto de Levy Mota)
ENGENHARIA é o terceiro passo de uma pesquisa, pautada em atividades empíricas (entrevistas, observações e laboratórios) e científicas (livros e artigos), que busca entreabrir a cortina de silêncio do teatro do sonho, de aparência, que envolve as travestis.
A partir da montagem do espetáculo UMA FLOR DE DAMA (2004), livremente inspirado no conto DAMA DA NOITE, de Caio Fernando Abreu, e da experiência com CABARÉ DA DAMA (2008), sentimos uma enorme necessidade em procurar compreender ainda mais o mundo dessas pessoas para além do estereótipo e preconceitos. O espetáculo, que tem como referência o livro ENGENHARIA ERÓTICA: TRAVESTIS NO RIO DE JANEIRO, do psicanalista e fotógrafo Hugo Denizart, e relatos subtraídos de entrevistas realizadas com travestis cearenses, almeja realizar uma desconcertante reflexão sobre a sexualidade na sociedade contemporânea através da ambivalência do travesti que nos desconforta, ameaça e fascina. Ao portarem um corpo onde se conjuga o feminino e o masculino ao mesmo tempo, com seus modos ousados, eles expõem a arbitrariedade de nossos arranjos sociais, questionando dicotomias e linearidades.
A busca por uma realização individual em cada transgênero passa necessariamente por práticas e técnicas corporais, que vão desde injeções de silicone até a reeducação dos hábitos e gestuais que representam a classificação dos gêneros. O que se pretende refletir também é como essas práticas, que são extremamente dolorosas, aliam-se ao prazer e a elevação da auto-estima. Aqui a dor não é sentida apenas no trato social, no âmbito das vivências afetivo-emocionais, mas também é sentida e vivida através da reconstrução e do que este prazer é absorvido pelo desejo que este corpo modificado possa incitar no outro. O desejo da travesti perpassa o desejo do outro.
Partindo da pesquisa realizada, pelo ator e diretor Silvero Pereira, iniciada em 2004 sobre o universo das travestis e transformistas e que resultou nos trabalhos UMA FLOR DE DAMA e CABARÉ DA DAMA, este novo processo fecha a trilogia tendo como referência o livro ENGENHARIA ERÓTICA: TRAVESTIS NO RIO DE JANEIRO do fotógrafo e psicanalista Hugo Denizart, e relatos subtraídos de entrevistas realizadas com travestis e transformistas de diversas cidades do Estado do Ceará.
ENGENHARIA ERÓTICA: UMA FÁBRICA DE TRAVESTIS parte de uma pesquisa empírica e científica, para além do estereótipo e dos preconceitos, do modo de vida das travestis do nosso estado na preocupação de quebrar conceitos impostos pela sociedade tentando desmistificar sua relação com a marginalização e prostituição e lançando um olhar sobre a diferença entre história de vida e condição de vida.
Realização: Fundação Parque de Formação Integral do Tapuio/ Grupo Parque de Teatro;
Produção: ATO;
Direção: Silvero Pereira;
Iinspirado no livro ENGENHARIA ERÓTICA - TRAVESTIS NO RIO DE JANEIRO de Hugo Denizart;
Texto adaptado: Silvero Pereira;
Elenco: Denis Lacerda (Deydiane Piaf), Diego Salvador (Yasmin Shirran), Jomar Carramanhos (Verônica Valentino) e Silvero Pereira (Gisele Almodóvar);
Atriz mãe (Vídeo): Joaquina Carlos;
Contra-regragem: Ítalo Lopes e André Heverson
Iluminação: Tomaz de Aquino;
Cenografia: Silvero Pereira
Trilha Sonora: Fabio Vieira e O Grupo;
Figurinos: Jomar Carramanhos, Ricardo Andrés Bessa, Noélio Mendes, Silvero Pereira, Denis Lacerda e Diego Salvador;
Maquiagem: O Grupo;
Maquiagem (divulgação): Assis Brito
Fotos: Levy Mota
Designer Gráfico: Andrei Bessa e Walmick Campos;
Técnica: Fabio Vieira, Tomaz de Aquino e Elano Chaves.