Mostra de Teatro Despudorado no BNB - Fortaleza

18:14 Postado por Intercâmbio entre Grupo 3X4 e Grupo POPULART /

No escurinho do teatro



Três espetáculos para retratar a realidade humana em condições marginalizadas, fazer pensar. A arte cênica dá espaço para temas e pessoas por vezes discriminadas na Mostra de Teatro Despudorado, aberta amanhã (1º), no Centro Cultural Banco do Nordeste
Isabel Costa - especial para O POVO 31/08/2010 02:00

Travestis, nudez, prostituição, traição. Estes personagens e temas serão escancarados para esculpir a diversidade humana em diferentes facetas. Assim começa, a partir de amanhã (1º), a Mostra de Teatro Despudorado do Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB). A realidade e a ficção encontram-se no palco para mostrar angústias, luta pela sobrevivência e marginalização.

Para abrir a sequência de peças o Grupo Parque de Teatro vai apresentar Engenharia Erótica. Uma pesquisa de oito anos resultou na montagem que explora o universo dos transformistas no Estado do Ceará. “O espetáculo é um teatro documentário onde a gente expõe a vida de 200 tipos de travestis e transformistas”, disse o diretor e ator Silvério Pereira. Além do tempo realizando estudos, Silvero Pereira utilizou o livro Engenharia Erótica – Travestis no Rio de Janeiro, de 2006, como inspiração para constituir a montagem.

Quatro personagens fazem girar o enredo do espetáculo. Todos estão presentes em outros trabalhos da companhia Parque de Teatro. São resgatados, mas não para repetirem-se, e, sim, para serem inseridas em situações diferentes. Por vezes, é feita uma comparação entre a figura do travesti e o clown (palhaço). “Ele não é um personagem, ele é arquétipo. Ele não é criado pelo ator, ele existe dentro do ator. A gente parte da mesma filosofia do clown para o ator e o travesti”, diz.

Dando continuidade, o público poderá ver Abajur Lilás. A ideia surgiu em 1999 quando o diretor Edson Cândido estava em São Paulo. As relações de poder são exploradas através da figura central de Gino. Em um prostíbulo, ele explora três mulheres e finca uma figura de ditador. Leninha, Célia e Dilma vivem em um circulo de dominador e dominante, fuga e consolo. Quando uma delas quebra um abajur a estrutura tão consolidada sofre as primeiras rachaduras e são desencadeados conflitos que, aos poucos, desembocam numa tragédia.

“Abajur Lilás, como qualquer outro trabalho, fala do ser humano marginalizado, porém humano”, destaca o diretor Edson Cândido. O coletivo fez uma pesquisa de um ano em prostíbulos de Fortaleza e na Praça José de Alencar. Entretanto, nem tudo o que foi visto neste período faz parte da peça. “No espetáculo, a gente não coloca todas as imagens que nós vimos, por que eram coisas muito fortes. A gente deu uma amenizada, mas mesmo com essa amenizada ainda choca. A vida da prostituta é muito difícil, mas são seres humanos”, pontua o diretor.

Para a Mostra de Teatro Despudorado, a trupe agregou novos atores dentro da proposta já consolidada. O realismo de uma ferida aberta surge para fazer os expectadores refletirem sobre a condição humana encontrada mesmo nos espaços e profissões mais discriminados. Abajur Lilás também entra em diálogo com a rua. Catadores de material reciclável e vendedores ambulantes entram o jogo para incrementar.

Fechando a programação o público verá Nudez sem castigo, do Grupo Centauro. Inspirado no texto de Nelson Rodrigues Toda Nudez será Castigada, o grupo desenvolveu uma textualidade composta de fragmentos em que a relação do casal principal se destaca, transformando-se numa investigação cênica sobre as relações humanas.

SERVIÇO
MOSTRA DE TEATRO DESPUDORADO – a programação especial acontece no Centro Cultural Banco do Nordeste (Rua Floriano Peixoto - 941, Centro), a partir de amanhã (1º). Classificação indicativa de 18 anos para os três espetáculos. Será exigido documento de identificação (RG, CNH ou carteira profissional) no momento da entrega do ingresso. Informações: 3464.3108. Entrada gratuita.

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