Um grande amigo: Gyl Giffony

20:29 Postado por Grupo Bagaceira de Teatro /

Rio de Janeiro, 13 de março de 2010.



Meu amigo,

Mais um dia não-qualquer-amanhã na sua vida. Como diria o tal Caio F.

Contrariando e reforçando os que te rotularam de “Fábrica de Travestis”, elas vêm mais uma vez! Engenhosas, de roupagem nova, com maquiagem apurada, jóias raras, prontas para avançar o sinal vermelho, descer mais um degrau e pisar de salto XV o solo movediço.

O teatro que você me mostrou há um tempo, falando delas, é movediço; essas meninas afundam o pé na nossa lama, remexendo no substrato que nós, os outros, a roda lança a elas. Para mim, depois da “Flor” e do “Cabaré”, observá-las nas ruas, nas imagens, nos bares, nos palcos, é entrever a mim mesmo. Acho que poucos não sentiram um desejo de tomar uma cerveja gelada, ou quente, com Gisele, e por quê? É fato que o indivíduo se faz na relação com o outro, e me pergunto que diálogo, nós, sociedade, temos ofertado a essas garotas? A “Flor” e o “Cabaré” derrubaram tantos conceitos... O meu receio virou admiração, e quantos outros não se renderam ao encanto da tua “Dama”, e mais que isso com a ambivalência delas, tão presente em nós, ditos contemporâneos. Essas poderosas conjugam não só gêneros, liquificando-os, reprocessam também o individual e o coletivo a cada dia.

Escrevo para agradecer por me mostrá-las com tanta sensibilidade, para agradecer a tua persistência, misto de perseverança e insistência... Amanhã, os cavalos alados da cidade-paranóia ganham o palco em forma de rua para entrar na nossa casa, no nosso quarto, no nosso banheiro, escancarando as janelas do nosso mais íntimo. Que a estadia delas em cada espectador-anfitrião seja da desordem!


Merda!


Um abraço enorme e saudoso,

Gyl.



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